quarta-feira, 30 de junho de 2010

as time goes by

Assombrado por uma dúvida: quando a pessoa vai repetidamente se olhando no espelho e dizendo que está acabada, em que ponto ela deve concluir que é uma pessoa acabada?

terça-feira, 15 de junho de 2010

esconjuro

"Acho que, pra começar, o que eu poderia te dizer é: tenta não ficar "impressionada". Mas digo isso no sentido interiorano da palavra, sabe? Lá em Juazeiro, pelo menos, os mais velhos dizem que uma pessoa tá impressionada quando não consegue tirar algo da cabeça, e quando começa a ver esse algo em todo lugar. Ou seja, impressionado é como eles chamam o pirralho que não consegue dormir depois de ver filme de fantasma na televisão, ou a pessoa que fica repetindo a mesma história por dias, se admirando.

Quando digo pra você não ficar impressionada, então, é porque já me impressionei algumas vezes - até com fantasma - e sei que tem horas em que a gente começa a ver a mesma coisa em tudo, e nessas horas, tudo começa a virar
aquela coisa, até um ponto onde a gente já não vê diferença entre prever o que vai acontecer e agir de acordo com o que a gente espera que aconteça".

domingo, 13 de junho de 2010

sin dejar huellas

A opção de voltar não constitui nenhum defeito; faz parte da fraqueza e da dúvida de cada um. É por isso que é preciso colocar fogo na casa antes de partir, abraçar o definitivo logo no primeiro impulso de coragem: para que o mesmo não persista sequer como hipótese.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

a produção intelectual e seus embates

Exceto por algumas (poucas) ressalvas, eu concordo com quase tudo que aparece no tão comentado texto de João Moreira Salles, lido durante a conferência para a Academia Brasileira de Ciências. Se as pessoas da área parassem um pouquinho de achar que precisam se defender de todo mundo o tempo inteiro e partissem para uma saudável e necessária auto-crítica, peceberiam logo que todo o hype excessivo em torno das artes é completamente injustificado.

Nesse sentido, a resposta dos que tentam rebater o texto é bastante sintomática do tipo de estratégia que orienta as respostas do campo: logo recorrem ao argumento defensivo de que as insuportavelmente apolíneas "ciências duras" pretenderiam apossar-se de todas as fontes de financiamento e, de quebra, relegar à extrema margem toda forma de delicadeza. Não duvido de que em alguma medida isto seja verdade. O problema é que, se a compensação se dá de forma simbólica pela exaltação do estiloso e do descolê como critérios para o que seria socialmente relevante ou digno de visibilidade, pior para nós. A afetação, a arrogância e a egolatria de tantos profissionais das artes e da moda, bem como a inflação dos recursos públicos para projetos e ações artísticas de relevância duvidosa são todos indícios de que a distribuição desigual de prestígio e visibilidade talvez esteja revelando sua face insustentável e seus efeitos nocivos.

Longe de mim querer fortalecer posições retrógradas que tentam pautar escolhas profissionais pelo critério da utilidade ou da mensurabilidade dos resultados - minhas escolhas sempre contrariaram esse tipo de perspectiva. Não obstante, nos tempos em que meio mundo canta, dança e representa - ou assim acredita -, acho interessante que alguém proponha pensar os modos pelos quais são determinados o peso e o reconhecimento que as distintas profissões terminam por adquirir dentro de uma certa economia do trabalho intelectual.