segunda-feira, 7 de junho de 2010

a produção intelectual e seus embates

Exceto por algumas (poucas) ressalvas, eu concordo com quase tudo que aparece no tão comentado texto de João Moreira Salles, lido durante a conferência para a Academia Brasileira de Ciências. Se as pessoas da área parassem um pouquinho de achar que precisam se defender de todo mundo o tempo inteiro e partissem para uma saudável e necessária auto-crítica, peceberiam logo que todo o hype excessivo em torno das artes é completamente injustificado.

Nesse sentido, a resposta dos que tentam rebater o texto é bastante sintomática do tipo de estratégia que orienta as respostas do campo: logo recorrem ao argumento defensivo de que as insuportavelmente apolíneas "ciências duras" pretenderiam apossar-se de todas as fontes de financiamento e, de quebra, relegar à extrema margem toda forma de delicadeza. Não duvido de que em alguma medida isto seja verdade. O problema é que, se a compensação se dá de forma simbólica pela exaltação do estiloso e do descolê como critérios para o que seria socialmente relevante ou digno de visibilidade, pior para nós. A afetação, a arrogância e a egolatria de tantos profissionais das artes e da moda, bem como a inflação dos recursos públicos para projetos e ações artísticas de relevância duvidosa são todos indícios de que a distribuição desigual de prestígio e visibilidade talvez esteja revelando sua face insustentável e seus efeitos nocivos.

Longe de mim querer fortalecer posições retrógradas que tentam pautar escolhas profissionais pelo critério da utilidade ou da mensurabilidade dos resultados - minhas escolhas sempre contrariaram esse tipo de perspectiva. Não obstante, nos tempos em que meio mundo canta, dança e representa - ou assim acredita -, acho interessante que alguém proponha pensar os modos pelos quais são determinados o peso e o reconhecimento que as distintas profissões terminam por adquirir dentro de uma certa economia do trabalho intelectual.

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