quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

pequenos contos latino-americanos

"E quando abri os olhos, uma sombra se descolou de uma parede, na mesma calçada, a uns dez metros, e começou a avançar na minha direção, e eu enfiei a mão na minha bolsa, que bolsa nada, na minha mochila de Oaxaca, e procurei meu canivete, que sempre levava comigo na previsão de alguma catástrofe urbana, mas as pontas dos meus dedos, suas polpas que ardiam, só apalparam papéis, livros, revista e até roupa de baixo limpa (lavada à mão sem sabão, só com água e vontade numa das pias desse quarto andar ubíquo como um pesadelo), mas não o canivete, ai, meus amiguinhos, outro terror recorrente e mortalmente latino-americano: procurar sua arma e não a encontrar, procurá-la onde você a deixou e não achá-la".

Bolaño, Amuleto, tradução de Eduardo Brandão

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