quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

uma promessa de futuro

O boom se tornou assunto recorrente. Sempre que alguém o enuncia, multiplica também os seus efeitos, pois ele é determinado não apenas pela concretude dos fatos materiais, mas também – e talvez sobretudo – pela propagação do sentimento que celebra. Ele se realiza como antecipação: só existe quando acreditamos que o futuro se fez presente e, sendo assim, é indissociável da noção de progresso. Sua força é centrífuga, sua imagem é a de uma curva ascendente e seu movimento característico é o salto.

Uma vez deflagrado, o boom converte o futuro próximo em presente – atestando, portanto, uma aceleração – e converte o horizonte intangível em uma aspiração que se pretende factual. Sua força deriva da sugestão de longevidade. Paradoxalmente, ele é tanto a expressão de um contexto imediato quanto o indicador de uma tendência que não sobrevive se não é capaz de assegurar uma duração. Sendo assim, o olhar em perspectiva seria a única arma capaz de colocá-lo à prova, e a distância é o lastro que o ratifica ou a força que o desmente.

O boom, portanto, coloca em circulação uma promessa de futuro – é aposta e especulação. Nos tempos que correm, é quase sempre apresentado sob a forma de uma explosão de consumo que é tão promissora quanto alarmante. Isso porque o anúncio do boom nos convida a comparar conquistas, mensurar ganhos e formular novas demandas, e se resulta em grande medida insustentável é porque leva à formulação de anseios mais ambiciosos que são absolutamente legítimos. Ele cria padrões de vida e expectativas de futuro que muitas vezes não estão asseguradas ou mesmo previstas pelo marco dos processos que o instauram.

É por isso que ao ouvir falar do boom eu não consigo, enfim, deixar de pensar no que vem depois dele. Não porque o condene, ou porque duvide da realidade momentânea que ele busca exprimir, mas porque – talvez devido ao meu modo de pensar irremediavelmente catastrófico – não posso deixar de me perguntar se será possível cumprir as promessas que ele assinala, responder às crenças que o alimentam.

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